Indo eu, indo eu a caminho do meu popó depois de feitas umas compritas num desses hipermercado que dá descontos em cartão, deparo-me com a entrada do lado do condutor barrada.
Primeira coisa, arrumar as compras na bagageira. Equacionei se deveria dirigir-me de imediato à recepção e fazer anunciar o caso mas optei por seguir os trâmites de auto-solucionar.
Segundo acto, analisar criticamente o cenário pitoresco. Ora, lembro-me de ter deixado o meu carrinho bem estacionado dentro do limite das 4 linhas que desenham um rectângulo no chão. Sendo que, restou espaço em ambos os lados.
Terceira acção, tentei em vão aceder à minha porta - lado do condutor - contornando a viatura pela frente, visto que a traseira do carro ao lado estava a escassos 3 dedos da do meu automóvel, e consegui abrir a porta uns 20cm. Sim, isso mesmo 20cm!
Quarto movimento, e literalmente movimentei todos os músculos do meu corpo ao entrar pelo lugar do pendura e transpôr o corpo para o lugar do condutor. Isto só foi possível porque o/a Sr.(a) do outro lado respeitou os limites.
Quinto acto, ligar o motor e puxar o carro à frente. Dei graças ao facto de não se encontrar nenhum carro à minha frente e assim facilitar a manobra de saída do estacionamento. Caso contrário era um daqueles pincéis, de frente-trás_frente-trás_frente-trás, and so on...
Sexto feito, imobilizar a viatura, procurar por papel e caneta e escrever um recadinho ao Sr.(a) e colocar no para-brisas. E saiu algo do género: "Agradeço que na próxima vez tenha mais atenção à forma como estaciona o seu automóvel de forma a não barrar o acesso à viatura ao lado."
Sétimo passo, estava eu a colocar a advertência quando chega um carro e estaciona em frente ao carro espaçoso. O Sr. abre o vidro e coloca a cabeça de fora e diz: "Oh menina, se precisar de falar com o dono desse carro ele encontra-se lá dentro no café!" Eu respondo: "Não é necessário!" O Sr. Amigo: "Eu vou agora mesmo encontrar-me com ele... Ele bateu-lhe ou assim?" Eu percebi que ao "assim" estava implícito a pergunta "A menina bateu no carro do meu amigo?" O meu pensamento: "Não, porque o meu carro não é um carrinho de choque, mas acima de tudo porque cultivo o civismo".
Oitava circunstância, lá expliquei o que aconteceu ao Sr. Amigo e ele riu-se e explicou por semelhantes palavras: "Ah, sabe menina ele é gordo e precisa de espaço para abrir a porta e sair do carro. Não leve a mal." A minha reacção diplomática: "Seja gordo ou não temos de colocar os outros no mesmo patamar que o nosso. E pensar nos outros e não somente no nosso umbigo. Já pensou, se eu também fosse gorda? E estivesse com muita pressa e isto realmente me tivesse causado maior transtorno?"
Penúltima reacção, o Sr. Amigo disse: "Ah (risos) não ligue (risos)!". Respondi: "Se o Sr. precisa assim tanto de espaço que estacione num sítio mais distante onde não bloqueie os carros, o meu carro já cá se encontrava. Como tal, fica o apontamento." Tive outro pensamento que completaria a minha opinião: "Estacione longe e assim até faz exercício!!!"
Por último, entrei no meu pópó com a sensação de que não era a primeira nem a última vez que o Sr. Espaçoso iria valer-se da sua situação obesa para estorvar a vida de terceiros.